As chamas gêmeas se encaixam perfeitamente nessa história, e a maioria de nós quer acreditar que há alguém especial lá fora, especificamente para nós. Como seres humanos, somos viciados em crenças e em provar sua validade. Há até uma parte do cérebro chamada Sistema Ativador Reticular (SAR) que nos mostra exclusivamente evidências do que queremos ver, em detrimento de todo um outro contexto. No caso das Chamas Gêmeas, quanto mais queremos que isso seja verdade, mais procuramos por sinais que o comprovem, lendo coisas nas entrelinhas ou acusando aqueles que não estão interessados de serem os fugitivos.

O segundo motivo é que as etapas propostas de uma conexão de Chama Gêmea seguem a estrutura narrativa mais cativante que existe – “A Jornada do Herói”.

Caso você não saiba, a “Jornada do Herói” é um formato de narrativa identificado por Joseph Campbell. Ele segue mais ou menos assim:

Um herói solitário tentando se encontrar em uma jornada inesperada e súbita (aventura e perigo). Um teste de caráter, coragem e habilidade Uma batalha. O retorno triunfante para casa com um tesouro. Esse modelo inspirou milhares de histórias, desde textos religiosos até blockbusters modernos, como “Star Wars” e “Senhor dos Anéis”. É uma estrutura incrivelmente inspiradora, que é familiar a todos os seres humanos.

A seguir, apresento as etapas propostas de uma jornada de Chama Gêmea (retiradas da Lei da Atração):

Buscar um parceiro (anseio por encontrar algo que falta na vida) Despertar (você encontra essa pessoa inesperadamente) O Teste (tentando entender seu relacionamento) O Ponto de Crise (ansiedade, dor, provocação) A Perseguição (uma dinâmica de fugitivo-perseguidor, luta constante) Rendição e Reunião (retorno juntos como um só). Pare por um minuto agora para comparar essas etapas com a jornada do herói. Você pode se surpreender.

Para deixar claro, não estou dizendo que isso prova ou refuta as Chamas Gêmeas. Estou apontando uma das razões pelas quais a narrativa é tão poderosa e convincente, mesmo para a pessoa mais racional. Ela segue a narrativa mais importante e emocionalmente impactante que influenciou os seres humanos por séculos. Em outras palavras, ela traz o cinema para a sua vida.

Os perigos da crença em chamas gêmeas

Alguns podem pensar que está tudo bem ser romântico e acreditar em chamas gêmeas. Eu concordo, mas há certos detalhes perigosos que vale a pena considerar.

Cuidado para não confundir espiritualidade com relacionamentos tóxicos

Envolvimento em relacionamentos tóxicos

A dinâmica de perseguidor-fugitivo pode justificar perseguir pessoas que não o querem ou permanecer em relacionamentos tóxicos. Quando você acredita que alguém é seu destino, pode ignorar todos os sinais de que essa pessoa não o quer e rotulá-la como fugitiva. Alguns podem até se recusar a aceitar a rejeição porque sentem que a pessoa precisa despertar. Em outros casos, já vi pessoas permanecerem em relacionamentos tóxicos e emocionalmente abusivos, justificando isso como parte da jornada da Chama Gêmea.

Acreditar em chamas gêmeas pode levar o indivíduo ao estado de limerência

Tentar provar que alguém é sua Chama Gêmea pode levar à limerência – o estado cognitivo de obsessão. Essencialmente, a limerência é quando uma paixão se torna uma obsessão. Você está determinado a conquistar os sentimentos da pessoa, se recusa a aceitar o resultado e interpreta compulsivamente cada comportamento ou sinal, como quando uma mensagem é enviada. Isso pode consumir sua vida e quase se tornar seu propósito.

Para muitos, isso leva a perder todas as outras coisas – outros relacionamentos, oportunidades, impacto mais amplo no mundo. Se você se ver caindo nas armadilhas acima, é hora de dar uma pausa e reavaliar sua situação. Isso pode ser uma ladeira escorregadia e você deve continuar a se concentrar em seu trabalho interno.

Independentemente de você acreditar ou não nas chamas gêmeas, muito provavelmente está lendo isso porque teve uma experiência incomum. A maioria das pessoas descobre a ideia quando encontra alguém a quem se sente magneticamente atraído ou que parece familiar.

Como lidar com a ideia de chamas gêmeas na vida prática?

Convido você a considerar o seguinte:

Algo dentro de você foi desencadeado e precisa ser explorado – portanto, não transforme isso em algo sobre a outra pessoa e sua “fuga”. Identifique o que está se movendo dentro de você. Sua crença nas chamas gêmeas não importa tanto quanto o trabalho em si mesmo. Você dificilmente provará com 100% de certeza a existência das chamas gêmeas, então, não perca tempo em uma tarefa impossível!

Concentre-se em como pode transformar essa experiência na maior transformação de sua vida. É menos provável que seja ficando obcecado por alguém e mais provável que seja encontrando a cura para traumas não resolvidos que provavelmente você carrega desde a infância.

Tente fazer um plano de ação

Pare de ficar obcecado em tentar provar que as chamas gêmeas existem

Uma das coisas mais interessantes sobre Chamas Gêmeas é que é improvável que você ouça falar do conceito até ter sua própria experiência. Quando isso acontece, o mundo inteiro pode mudar debaixo de você. Já vi pessoas completamente racionais reavaliando todo o seu sistema de crenças depois de conhecer aquela pessoa que desperta algo diferente dentro delas. As mesmas palavras são sempre usadas – era magnético, elétrico, familiar, diferente. Claro, quando você pesquisa esses sintomas no Google, isso o leva à ideia de Chamas Gêmeas.

O que me preocupa é quando as pessoas começam a querer provar isso. Eles ficam totalmente obcecados com a ideia de ter encontrado sua outra metade e passam quase todas as horas acordadas tentando construir argumentos sobre por que esse deve ser o caso. Dentro de um curto espaço de tempo, uma pessoa bem equilibrada pode repentinamente entrar em um ciclo de vasculhar todos os artigos já escritos sobre o assunto e ler sinais inexistentes para validar sua nova crença.

Eles também podem começar a frequentar fóruns populares como o Quora e começar a fazer perguntas como “Como sei quando conheci minha chama gêmea?” ou “O que significa quando estou magneticamente atraído por alguém?”.

Além disso, não vale a pena tentar validar se é verdade, porque isso não faz o trabalho interno de qualquer maneira!

Se você se permite analisar a situação se conheceu sua chma gêmea, duas coisas acontecem:

1. Você fica obcecado com cada detalhe, pensa constantemente na situação e, como resultado, torna-se mais investido (mais difícil de se desapegar).
2. Você fica preso em sua cabeça criando fantasias em vez de fazer o trabalho interno que esta situação traz à sua atenção.

Você deixa o presente e começa a projetar suas próprias crenças na outra pessoa. Em última análise, isso molda a maneira como você vive sua vida e pode se tornar uma distração perigosa de todo o resto.

Um ótimo exemplo é a teoria do “Chaser-Runner” (Perseguidor-caçador). Não sei se é verdade ou não, mas questiono a utilidade desse conceito. Pela minha experiência objetiva de trabalho com situações da vida real, a ideia de um perseguidor e corredor apenas ajuda a exacerbar a fantasia e a projetar mais ilusão em um relacionamento.

Já vi pessoas declarando inflexivelmente que a outra pessoa está negando seus sentimentos (e, portanto, um corredor), apenas para ficar chocada 10 anos depois, quando essa pessoa ainda não está retribuindo.

O apego à teoria permite que nossa imaginação vá à loucura – preenchemos as lacunas com o que quer que seja verdade, ao invés da realidade diante de nós. Se você está constantemente tentando provar que alguém é sua chama gêmea, tentando ver em que estágio você está ou gastando muito tempo em fóruns, dê um passo para trás. Você ainda pode acreditar na ideia e obter benefícios sem fazer essas coisas, como vamos explorar agora.

Concentre-se no que foi agitado dentro de você

O melhor lugar para começar é simplesmente anotar o que você está sentindo. Algo sobre essa pessoa provocou uma reação poderosa dentro de você. Esqueça se é divino ou o encontro de uma chama gêmea – coisas que você escondeu profundamente dentro de você agora foram despertadas.

Concentre-se na auto mudança e não no seu suposto complemento divino

Embora isso possa ser opressor, você pode optar por adotá-lo. As sensações que você experimenta podem ser exclusivas da sua situação e geralmente serão a ponta do iceberg.

Por exemplo, já vi pessoas que foram imediatamente dominados por um sentimento de reconhecimento. Quando eles olharam essa pessoa nos olhos, eles descreveram familiaridade, atração magnética e eletricidade intangível. Se você não é uma pessoa espiritual, a intensidade dessa interação pode assustá-lo e questionar o que você acredita ser verdade. Por outro lado, se você tem fé em algo além, pode começar a se perguntar sobre o propósito maior disso – é o destino ou fantasia?

Conforme você continua a interagir mais com essa pessoa, mais bagagem começará a se apresentar. Pense nisso como seu inconsciente considerando-o pronto para enfrentar tudo o que você reprimiu. Não se preocupe em entender tudo no começo – concentre-se na pura observação. Mantenha uma lista em algum lugar que você possa acessar prontamente e acrescente a ela quando achar que algo digno de nota se apresentou. Mais importante ainda, não se julgue ou se critique pelo que está sentindo. Isso não serve para nada e prejudica a oportunidade de ouro à sua frente.

Faça o trabalho interior

Depois de dedicar um tempo para observar o que foi despertado dentro de você, você precisa explorar essa bagagem e iniciar o processo de cura.

Tudo sobre esta experiência gira em torno de seu eu interior.Por mais que você queira fazer sobre o amor ou a outra pessoa, é sobre o seu crescimento espiritual como pessoa.

Para muitos, a questão-chave pode ser a autoaceitação. O que você vê na outra pessoa geralmente é um reflexo de você e das qualidades positivas pelas quais você ainda não aceitou. Ao invés de perceber seu próprio valor, você se apaixona pela representação dessas mesmas características na outra pessoa. Em alguns casos, você pode até idolatrá-los por isso. Você pode se ver olhando para eles como algo incrível quando, na realidade, você possui as mesmas coisas em si mesmo. O trabalho aqui é explorar sua própria identidade e encontrar o amor próprio e não buscar validação nos outros.

Outro problema comum é o ciúme intenso. Você pode estar sobrecarregado com emoções poderosas, constantemente obcecado com quem essa pessoa está ou porque ela não escolheu você. Isso pode levar você a se envolver em comportamentos que normalmente nunca consideraria, como perseguir as mídias sociais, pedir informações aos amigos ou até mesmo sair nos lugares que eles frequentam para fabricar um encontro casual.

Embora perceber que você está fazendo isso pode ser desagradável, não é anormal, nem você deve se envergonhar. Todos devem enfrentar seus próprios demônios antes que possam seguir em frente. Todos nós temos lutas internas que os outros não conhecem – o importante é aproveitar a oportunidade para resolvê-las.

Descrevi dois caminhos comuns aqui e é fundamental estar ciente de que você pode ser diferente. Dê a si mesmo a chance de entender o que o trabalho interno precisa ser feito e, em seguida, tome medidas para fazê-lo. Agora, se você está se perguntando como fazer isso, há muitas maneiras. Alguns indivíduos apreciam profundamente o processo de introspecção e os ensinamentos autoaplicáveis ​​do desenvolvimento pessoal. Outros podem estar mais inclinados a encontrar um coach ou procurar alguma forma de terapia. Qualquer uma das opções é ótima porque é um passo concreto para sair da sua cabeça e estar presente. O que queremos evitar é o ciclo interminável de pensamento , fantasia e paralisia analítica.

Explore as lições que esta experiência está tentando ensinar a você

Agora que você iniciou o processo de cura, dê um passo para trás e procure as lições mais elevadas que esta experiência lhe ensina.

Há duas maneiras que eu recomendo tentar ajudar com isso.

A primeira é o Reenquadramento Cognitivo — atribuir um novo significado a uma experiência. Esta é uma técnica bem pesquisada em autodesenvolvimento que tem consistentemente mostrado resultados positivos para os indivíduos. Para se engajar no reenquadramento, você pode começar com duas perguntas simples:

1. O que poderia ser considerado bom nessa situação?
2. Que oportunidades isso apresenta?

Tente isso por si mesmo e veja o que vem à mente. Não fique preso em um quadro negativo – haverá elementos positivos se você olhar objetivamente. Para mim, descobri que estava me apresentando a chance de lidar com uma bagagem que eu não fazia ideia de que existia. Abriu minha mente para novos ensinamentos espirituais, apresentou-me conceitos dos quais nunca tinha ouvido falar e, finalmente, me levou a crescer significativamente como pessoa.

Finalmente – Confie no Processo e Permaneça Presente

Para a última etapa, deixo um lembrete para seguir o processo e garantir que você permaneça no momento presente.

É tão fácil procurar respostas rápidas ou alguém para consertar você. É ainda mais fácil recuar para as profundezas da sua imaginação e continuar a projetar fantasias sobre a realidade que existe. Muitos de nós esperamos que os resultados venham instantaneamente e sem trabalho. Sim, você pode lutar, mas é aí que a mágica acontece. Sair da zona de conforto é o caminho mais rápido para se desenvolver como pessoa, e enfrentar essa situação de frente é uma das coisas mais corajosas que você pode fazer.

Nas palavras de Eckhart Tolle, tudo o que você tem é agora – o momento presente. Este é o dom de estar vivo. Mantenha os pés no chão fazendo o trabalho em si mesmo, em vez de ficar obcecado se a outra pessoa é sua irmã gêmea ou como conquistá-la. Isso é mais sobre você do que você imagina.

Helena Marques é jornalista formada pela UFRJ e mestranda em filosofia na mesma instituição.
Editora do site Dom de Fluir, desde a infância estuda astrologia e a partir de 2015 ampliou os seus horizontes para o tarot e numerologia!
Atualmente é colunista de esoterismo na Revista Ana Maria e Ibahia. Instagram: @domdefluir